quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O medo que não existe

A tristeza se parece com o medo.
Um formigueiro no coração;
Uma fome enjoada;
Um susto que não passa;
Quem dera que.
Não fui eu.
Por favor. 
O medo não se parece com nada.
E nada, dizem os cientistas alemães,
Não existe.
A tristeza se parece com o medo
Que não existe.

(2016)

Sobre anotar

Não escrevo poesia. Anoto perfumes.
Anoto para nunca esquecer
o tamanho do que não sei.

(2016)

Só o impossível


Só o impossível nos interessa.
A fisga disparando estrelas ;
O pecado barulhento.
Uma exatidão sonâmbula,
Que estica o sábado além.

Quarenta e três sauadades no abraço;
Pássaros e nova reza na espera.
Dois rios, violentos,
A subir de suspiro até às nuvens.
Pepitas de chocolate, também, quando já for de manhã.

Felicidade de arrastar asa onde o frio não existe.
E um carvão indeciso, protegido, que não esquece nem escreve 
o tamanho do amor.

(2016)




Azulinha

Fico exausto de fé, azulinha.
As minhas mãos nas tuas,
o mar tatuado.
Um beijo muito adiado,
Recebido como graça e ciúme.
Como greve, como cume do cume.

Disposição para ficar debaixo
da saudade que a gente dobra
a descobrir a morenice que ainda
é tudo. e nunca sobra.

Perder-me vindo da onda,
por ti, azulinha, perder-me
sem te contar.
Calafrios sinceros,
mordidas enxutas,
por ti, azulinha, navegar.

(2016)
Fico exausto de fé, azulinha.
As minhas mãos nas tuas,
o mar tatuado.
Um beijo muito adiado,
Recebido como graça e ciúme.
Como greve, como cume do cume.

Disposição para ficar debaixo
da saudade que a gente dobra
a descobrir a morenice que ainda
é tudo. e nunca sobra.

Perder-me vindo da onda,
por ti, azulinha, perder-me
sem te contar.
Calafrios sinceros,
mordidas enxutas,
por ti, azulinha, navegar.

(2016)

Foram os teus olhos

Foram os teus olhos. 
Só agora, com a moça na tv
De lágrimas e lealdade, 
Entendi. Foram os teus olhos. 
A novidade total dos teus olhos,
Séculos de guerra e paz; 
Rituais lentos, tristeza suspensa.
Foram os teus olhos.
Os teus olhos fechados no meu peito
Os teus olhos dançantes no ar frio
Os teus olhos que não sabem
Fingir. Agora eu sei.


(2016)

Quem acabará com o meio

Eu estou aqui, tu estás aí. 
Nenhum dos dois sabe. 
Os dois queremos saber.
Quem virá acontecer?
De que noite passará vestida
A ilusão, de que mão estendida?
Quando é que passos são passeio,
Quem acabará com o meio?

Certezas de outra memória:
Eu repetirei verso vermelho,
Tu rirás além da história.
Ou nada disso, se há dança.
Ou tudo isso se a noite é criança.
Sabes, A memória desaprendeu.
Ainda bem. A morte morreu
naquelas unhas mal cortadas
Sede e fome de outras estradas.

Acho que vou fazer um pacto
Com o silencio. Para me acabar.
Com a poesia. Para te rimar.
Com o cansaço. Para me sorrir.
Com o acaso. Se conseguir.
Pactos de criança, pode ser?
Pactos de dormir, não entender.
Pactos de sobras, frio, serão.
Pactos de amor. Ou não.


(2016)