segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Ou vais embora de vez

Quando é que voltas ou vais embora de vez?
Ainda há flores; o violão afina-se rápido
As mãos estão livres.
Não podemos fazer nada por Cuba.
Enganaram pessoas atrás dos montes.
Quando é que voltas ou vais embora de vez?
Aquela menina disse não à piedade.
A outra fez circo na nova estação.
Ainda seremos dois e os nossos medos,
Tentando esconder o que há de verdade
Na piada, no silencio, nos discos.
Quando é que voltas ou vais embora de vez?
Ser tudo a gente não pode pedir;
Mas comer só entradas, sentar na fila da frente
Atrasar o beijo, enganar explicações, a gente pode.
Quando é que voltas ou vais embora de vez?
A gente pode unir-se na oração, no frio.
Há cascatas e transes dentro da beleza.
Mesmo que a resposta nunca chegue
Tu sabes dançar, eu sei dar-te a mão.
Quando é que voltas ou vais embora de vez?
O que para mim foi Roma e para ti Orlando
Está gravado. Mandaram para as nuvens;
Ainda se faz e refaz o amor com farinha.
E com fermento. E com ventoinhas perigosas
E com livros e com praças e com sol.
Rebenta-me. Apanha os cacos. Sopra.
Quando é que voltas ou vais embora de vez?


(2016)

Não te escrevo cartas de amor

Não te escrevo cartas de amor,
Porque não lembro o que é o amor.
Vou e volto da tua pele
Sem anotar o caminho.
Não te conheço, mas não te estranho.
Não te descanso nem me acabas.
Não te escrevo cartas de amor,
Porque renasço;
E dizer não conta
Nem metade.
Palavras são assim: sol, chuva, bomba, Amélia.
Nas esquinas não ficamos.
Calo o meu antes na tua língua.
Permitimos o azul.
Não te escrevo cartas de amor
Porque ainda dou erros de criança.
Ofegante, te pergunto
Se queres caminhar.
E então, convictos,
Quebramos a ampulheta;
devolvemos a areia à maré.
(2012)

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O medo que não existe

A tristeza se parece com o medo.
Um formigueiro no coração;
Uma fome enjoada;
Um susto que não passa;
Quem dera que.
Não fui eu.
Por favor. 
O medo não se parece com nada.
E nada, dizem os cientistas alemães,
Não existe.
A tristeza se parece com o medo
Que não existe.

(2016)

Sobre anotar

Não escrevo poesia. Anoto perfumes.
Anoto para nunca esquecer
o tamanho do que não sei.

(2016)

Só o impossível


Só o impossível nos interessa.
A fisga disparando estrelas ;
O pecado barulhento.
Uma exatidão sonâmbula,
Que estica o sábado além.

Quarenta e três sauadades no abraço;
Pássaros e nova reza na espera.
Dois rios, violentos,
A subir de suspiro até às nuvens.
Pepitas de chocolate, também, quando já for de manhã.

Felicidade de arrastar asa onde o frio não existe.
E um carvão indeciso, protegido, que não esquece nem escreve 
o tamanho do amor.

(2016)




Azulinha

Fico exausto de fé, azulinha.
As minhas mãos nas tuas,
o mar tatuado.
Um beijo muito adiado,
Recebido como graça e ciúme.
Como greve, como cume do cume.

Disposição para ficar debaixo
da saudade que a gente dobra
a descobrir a morenice que ainda
é tudo. e nunca sobra.

Perder-me vindo da onda,
por ti, azulinha, perder-me
sem te contar.
Calafrios sinceros,
mordidas enxutas,
por ti, azulinha, navegar.

(2016)
Fico exausto de fé, azulinha.
As minhas mãos nas tuas,
o mar tatuado.
Um beijo muito adiado,
Recebido como graça e ciúme.
Como greve, como cume do cume.

Disposição para ficar debaixo
da saudade que a gente dobra
a descobrir a morenice que ainda
é tudo. e nunca sobra.

Perder-me vindo da onda,
por ti, azulinha, perder-me
sem te contar.
Calafrios sinceros,
mordidas enxutas,
por ti, azulinha, navegar.

(2016)

Foram os teus olhos

Foram os teus olhos. 
Só agora, com a moça na tv
De lágrimas e lealdade, 
Entendi. Foram os teus olhos. 
A novidade total dos teus olhos,
Séculos de guerra e paz; 
Rituais lentos, tristeza suspensa.
Foram os teus olhos.
Os teus olhos fechados no meu peito
Os teus olhos dançantes no ar frio
Os teus olhos que não sabem
Fingir. Agora eu sei.


(2016)

Quem acabará com o meio

Eu estou aqui, tu estás aí. 
Nenhum dos dois sabe. 
Os dois queremos saber.
Quem virá acontecer?
De que noite passará vestida
A ilusão, de que mão estendida?
Quando é que passos são passeio,
Quem acabará com o meio?

Certezas de outra memória:
Eu repetirei verso vermelho,
Tu rirás além da história.
Ou nada disso, se há dança.
Ou tudo isso se a noite é criança.
Sabes, A memória desaprendeu.
Ainda bem. A morte morreu
naquelas unhas mal cortadas
Sede e fome de outras estradas.

Acho que vou fazer um pacto
Com o silencio. Para me acabar.
Com a poesia. Para te rimar.
Com o cansaço. Para me sorrir.
Com o acaso. Se conseguir.
Pactos de criança, pode ser?
Pactos de dormir, não entender.
Pactos de sobras, frio, serão.
Pactos de amor. Ou não.


(2016)

terça-feira, 7 de junho de 2016

No fim

Sempre, no fim, as águas pousam.
Beijos de luz nos braços cansados,
Migalhas de sal e susto;
Sorrisos nervosos, uma folha;
Recado, dentes nos dentes;
Um pouquinho de frio. Frio bom.
A alegria, leve, do que é novo
E permanece.

(2016)


Neste dia de anteontens, aqui,
Vim perder a lua;
Vim musicar a luz;
Deitar contigo;
Desistir de terminar.

Neste dia de fachada,
Vim refazer a promessa,
Semear a pressa, inaugurar.
Perceber, contigo,
Que cada centímetro vale a pena
E canta.

Neste dia de maldades,
Vim sossegar porque chegaste;
Talvez,
adivinhar quando partirás
E guardar segredo,
Na pele.
Foste tu quem se esqueceu de mim, 
Ou fui eu que me esqueci de ti?

Foi o silêncio que se lembrou da gente.

(2016)

Comecemos pelas estrelas

Aquele instante,
De novo.
Não saber onde por a mão,
o vento,
não saber que fazer da boca.
Um susto dentro do peito,
Um pedido;
Segredos de primeira vez.

Delicadeza até no improviso.
Poder adormecer,
ir embora.
estar em todos os lugares.

Meu bem, meu chão,
Comecemos pelas estrelas.

Voltar ao essencial

Voltar ao essencial.
Discutir os sonhos,
Não discutir os sonhos,
Tentar.

Olhar o que tem de Deus
Na paisagem,
O que na paisagem
Tem de flor,
Supor.

Permitir que o
Caminho balance,
Desligar a voz do caminho,
Lutar.

Pedir permissão à claridade
Para a mordida.
Brincar, cada hora, de Adão.
Quereres também,
e então.

(2016)

Sabe-se lá

Sabe-se lá se o amor pode despedir-se antes
Do tempo. Sabe-se lá do tempo. Sabe-se lá. 
Sabe-se lá se há verde onde há ideia, se há
Mais perdão na madrugada, na mão. Sabe-se lá.
Sabe-se lá se o grito é de quem grita, ou se 
Quem te pede não tem afinal a vista cheia, coração. 
Sabe-se lá se um calcanhar não salva a história,
Por um triz. Sabe-se lá o que é vitória, meu chão.

A dançar

O que me interessa nos adultos,
o que me apaixona e aproxima,
é a possibilidade de voltarem a ser crianças. 
Essa possibilidade 
que fica na menina dos olhos cansados,
a dançar.

(2016)

Sem medo da tristeza


A tristeza se parece com o medo.
Um formigueiro no coração;
Uma fome enjoada;
Um susto que não passa;
Quem dera que.
Não fui eu.
Por favor. 
O medo não se parece com nada.
E nada, dizem os cientistas alemães,
Não existe.
A tristeza se parece com o medo
Que não existe.

(2016)

Anoto

Não escrevo poesia. Anoto perfumes.
Anoto para nunca esquecer
o tamanho do que não sei.

(2016)

Só o impossível nos interessa


Só o impossível nos interessa.
A fisga disparando estrelas ;
O pecado barulhento.
Uma exatidão sonâmbula,
Que estica o sábado além.

Quarenta e três sauadades no abraço;
Pássaros e nova reza na espera.
Dois rios, violentos,
A subir de suspiro até às nuvens.
Pepitas de chocolate, também, quando já for de manhã.

Felicidade de arrastar asa onde o frio não existe. E um carvão indeciso, protegido, que não esquece nem escreve o tamanho do amor.

(2016)

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

E pronto

Olhava-te com olhos de quem se esqueceu que os tem.
Ainda penso no que vi e nem acredito, sabes?
Como eras quando eras, De onde, De que pecado?

Deixavas-me exausto e sonâmbulo para o que viesse
- Vontade de mudar mundo pós-filmes, pós-saltos -
Dormia aos pedaços, não dormia.
Dormia no pedaço e enrolava no teu lençol o teu medo,
Rebolava na mentira, e porque era mentira bonita, deixava passear.

Era tudo um pela-primeira-vez-antigo. Para deuses, sabes?
Uma ternura sem dono, uma inveja dos espaços entre nós.
Era a telegrafia das horas, os passos-tambor, o fumo da manhã.
Era o desaprender de todas as linguagens.

Vi-te atacada por ti e deixei-vos lutar.
Tinha perdido o meu monstro próprio numa das garrafas.
Reclamei da mortalidade por puro capricho. Morre-se de ti.
E é tão bom que eu rio tolo-renascido, a respirar exagerado.
Um carpinteiro de recados discreto que o sonho fica de vir buscar pela noite,
mas facilita.

Não compreendi as dores disfarçadas de século, sabes? Nem o fio, nem o rosa.
Não compreendi o perfume, nem o brinco, nem o pescoço, não ainda.
Nem porque o passado, sem ter coração, tem duas mãos gordas.
Não soube, sabes?
É que te olhava com olhos de quem se esqueceu que os tem. E pronto.

(2012)

Ano meu, ano meu, anão

Ano meu, ano meu, ano teu, nosso ano, ano, aninho, anão,

Farei de ti o que não me permitas. Se me apontares a direita, presumo que adivinhas a resposta. Poderias ser o ano de sopas e descanso, mas não. Perdão. Serás ano de vendavais, outras sereias ruivas nas mesmas rochas; ano de gestos revolucionários com causa duvidosa e choro, quando o choro chegar. Serás para a vida o que o melhor vinho é para as papilas gustativas: choque, estranhamento, emoção, tesão, liberdade.

Abraço-te. Colho-te. Olho-te os olhos verdes também. Não há humanidade em estar sozinho numa casa a pensar no mundo. Estarei por aí, na rua, a misturar-te, com sal, com os teus primos mortos, com lendas do castelo, superstições e ternuras. Se tentares posar para revista de muita tiragem, ou se te apressares a comprar bolachas para o Chá das cinco, corto-te um pé e exilo-te em 2020, com os comentas. Hei-de beijar-te e morder-te num variação sem aviso. Hei-de dizer-te o que sobrar do cansaço e da esperança.

Quando vieres com ameaças de fim do mundo, respondo-te que tudo bem. Se não agora, quando? Fim do mundo seja. Tantas estrelas à espera para parir poetas. Viemos do mesmo pó e juntos ao mesmo pó voltaremos.

Entretanto, bebe um copo e junta-te à festa. Num bolso tenho duas eternidades para curtirmos nas próximas marés. No outro bolso uma folha pequena que diz: “xiu”!

Não te tomo como garantido. Não me tomes também. Sejamos corte russa, cocktail ousado, caminhada interminável, riso na catedral, sapatos grandes demais, lençóis de linho, eclipses em Nova Iorque, tradições mexicanas, atividade debaixo da mesa. Assumamos a sedução. Nenhum dos dois tem mais idade para fingir.

Aos que amo, permite, por favor, que façam de ti o que quiserem. Coloca a venda, mas deixa as algemas na gaveta. Temos uma divida gorda com o tempo e tencionamos pagar certinho em trezentas e sessenta e cinco prestações de gratidão.

Assim recomeça o mundo,

Assim recomeça o mundo,
(Barco perfeitamente adequado)
Em desmaio de frio,
Escadaria inclinada,
Abraço sem suspiro,
Poesia de contramão.

Numa compulsão de saliva, sorte e grito,
espaço mínimo entre os pés,
Na água salgada que desinfeta os sonhos.

Numa refração severa do que sustenta
Os olhos,
Do que convida as estrelas
A desabar.


(2015)

Hora H

Hora H

As tuas palavras ficaram por aí,
E não há luz na tua rua.
Desligaram as ondas,
Silêncio igual aos outros;
Não vieste. 

-

Surpreendidos ficaram os índios
ao ver os primeiros
europeus com tanta roupa.
Eu sento e aceito.

-

A Branca de Neve não mordeu
a maçã porque acreditar
que a velhinha era boazinha.
Mordeu a maçã
porque a maçã
era bonita.


(2015)

Adolesço

Nada me adormece melhor
Que o teu cansaço;
O teu amor seguro.
Esta janela de aldeia
Na maior cidade,
Os ombros colocados
Com exatidão e sacerdócio.

Fico mudo – soltem os foguetes – Fico pronto.
Durmo porque trazes certezas
E achas graça ao que tem graça
E nunca vais embora.

Não sonhei contigo.
Pertences à vida, ao frio
Ao cheiro de almoço,
Ao cabelo despenteado.

Ser adulto é ter muito medo
Da morte.

Adolesço, deitado, contigo.


(2015)

O silêncio

Com a idade, só vim a amar mais o silêncio.
O silêncio como arquitectura frágil.
O silêncio que tudo principia.
O silêncio da derrota.
O silêncio adúltero da poesia.
O silêncio que te despiu e deixou dormir ali.
Um silêncio contra feito.
Silêncio dos caminhos que não segui.
Além do silêncio perfeito.
O silêncio da veia atarefada.
O silêncio de haver oeste, de haver sul,
E não haver nada.
O silêncio como última morada.

O silêncio como tesão.
O silêncio do teu pescoço a apanhar lua.
Um silêncio sem intenção.
Um silêncio abortado em plena rua.
O silêncio abraçado muito forte.
O silêncio só terminado com a morte.

O silêncio que te prometo e não cumpro.
O silencio que prende mas não escraviza.
O silêncio, resposta de bolso.
O silêncio que o azul organiza.
O silêncio do galo que pressente.
O segundo do silêncio em tua mão
O silêncio recortado da paisagem.
O silêncio que do espanto é irmão.
O silêncio que fica pela página.
O silêncio que te pergunta do velho amor.
O silêncio que ainda não acaba ,
O último recurso para a dor.

O mundo podia ser

Invés de desumano,
O mundo podia ser um pouco
Mais estreito,
Para a gente se cruzar.

Proposta concreta:
Elefantes como reis.
O maior coração é que manda.

Invés de acelerado
O mundo poderia ser um pouco
Mais estrelado
Para a gente – chão - não ter pressa.

Proposta concreta:
Abolição do daguerreotipo.
Uma ressurreição do perfume.

Invés de azul ou verde,
O mundo podia ser um pouco
Mais de ler a sina.
Para a gente, no medo, se abraçar.

Proposta concreta:
Esquinas redondas
Por um ciúme que rode de mão em mão.

Invés de eleito,
O mundo podia ser um pouco
Mais invisível.
Para a gente tentar o contrário.

Proposta concreta:
Tocares à minha campainha bem tarde.
E eu ter ido por aí.


(2015)

Horário Marcado


É aqui, em horário marcado,
por um fio,
que a gente melhor se desconhece.
Com todos os braços possíveis
todos os intervalos
pouco justos entre querer e mais.

(2015)

Limites

Temos ousado prever o fim do mundo.
Nunca o fim do amor.

Não sabemos


Não sabemos,
Sou suspeito,
Nem podemos
Imitar o desejo.

Duas sombras
Defendendo-se como podem.
Uma conspiração?

Crime é viver
Atrás de uma lente.
Nada é invisível
Quando mente.

Investiguemos perto,
Finalmente.
Com vermelho,
E espelho
E azul.

(2016)

Sou megalômano


Sou megalômano.

Queria propor-te uma brincadeira
com as estrelas,
um susto
De sem dono,
teres já morrido 
quando te vejo,
Nunca mais
se sortear o fim. 

Parceria de rua.
Passarmos na casa de partida
a pensar no lucro
que dá um beijo
se forem seis.


Não há nada como o antigamente

Não há nada como o antigamente
para quem tem medo
ou sono
ou está só.
Máquinas fariam 
para quem não precisa.
Um nó no mesmo inverno
na mesma flor
bastaria para
estancar a dor.

Seja como for,
eu te digo que acordo
no futuro. E de cá
te mando um beijo
confiante
de que te vejo amanhã.

Se por acaso não vieres,
conta a outras mulheres.


(2015)

Casebre de Montanha

O que podem dois,
Num casebre de montanha,
Fazer com o destino?
Inventar papéis,
Trocar-se.
Rir e conhecer.
Aprender a ler espuma
na nuca, as mãos abertas,
um bis.

ver três filmes antigos
perdoar, também,
e lembrar dos outros.

Saber concretamente
que não há morte.
Exemplificar o que é uma
lua se esconder no mar.
Servir-se de tudo.

(2015)

Do anoitecer


Poesia é tudo ou nada,
Não dá para escolher.
Poesia não é da amada,
Mas do anoitecer.

(2015)

Que desencontro, amor

Que desencontro, amor
Eu inteiro, tu melhor.
eu bora lá e tu pera aí.

Acho que sempre tive medo de ti.
Medo do teu não,
Medo do teu sim.
Medo, mais ainda, do teu
antiquíssimo silêncio.

Sabor ácido na boca
Recomeço do fim.


(2015)

A mim também a poesia mudou a vida

A mim também a poesia mudou a vida.
Não sabia como chegar, nem sei, nem ia.
A cabeça de fósforo dançante no peito,
Não cansava, nem contava, nem ardia.

Enterrava as futuras rugas no sofá
Deixava a escuridão no lugar dela,
E sorria na tristeza azul de imaginar.

Lisboa

Lisboa não sei se te conheço
Ou me espanto.
Sei que também madrugas
E tens um canto só
Onde terminas.

Sei que cantas porque não consegues, e ninguém acredita
Amante, moça, santa, mãe
Mal dita.

Um dia perdi-me.
eras Branca, branca, branca,
Assim azul de imaginar.
Outro dia venho escondido, juro,
E te apanho no altar.


(2015)

Descer à Palavra

Deus tem que descer à palavra.
E desce.
Para rir, perguntar quem viu,
E desmentir histórias antigas.
Para passar a mão no cabelo de uma criança que terminou a dança.
Para contar as estrelas
Que só adivinhamos.

(2015)

Um verso estrangeiro

Escolhi para ti um verso estrangeiro
e a minha profissão
aqui 
é pular etapas. 

bastariam duas pedras,
para quebrar os dentes,
o mundo,
as ilusões,
tudo de uma vez.
E nada acontece
enquanto me esperas
muito lá em cima,
depois do suor
dos óculos,
da fome, dos rios,
das coisas.

Precisamos um do outro
é o que quero
acreditar que é,
mas, pudera,
deixaria o teu sim
para eles ou pra depois.
te olharia somente
às risadas e aos
prantos, de uma vez.

Enfim, sem mim,
de uma só vez,
Te amaria
a levitar ja sobre as janelas,
,vizinhas brancas.
A desaparecer
Por dentro dos suspiros
, das histórias,
A espreitar entre linhas
,nos dentes
pregado na cruz, desaparecido.

TU és tu eu sou eu
e não entendo nada disso
enquanto giro na mesma
esfera de Berlim.

Quero sumir-te e assumir-te.
voltar a ser vida primordial
como muito
abaixo da terra
faziam os primeiros
peixes azuis enamorados


(2015)