Parem a orquestra, parem tudo, que eu entro na fuga para perto de ti. Parem as heróicas, as tubas, os arcos, pássaros em fogo na sala vazia. Parem o sismo, o ritmo da prosa, o baixo, Salvem a folha virada por virar, salvem. Parem as gotas, as águas, o depois do meio-dia, o susto. Parem as valsas, o coro, eu choro o choro. Parem para já.
Parem a sétima, a nona, a quinta, a feira, parem os macacos a brincarem com a orelha. Parem a batuta, a truta, a dor, parem que me calo mas não sei calar amor. Parem os risos, a bula, a burla, o indizível no libreto. Parem o intervalo e a capacidade de perdoar. Parem o pano, as cordas, a baqueta, parem Romeu e Julieta, não me digam que acabou. Parem o bombo, o gesto de ateu, o gato na janela. Arranjem outra viela. Parem para já.
Parem o mundo novo antes da descoberta, a impressões do elefante, salvemos uma canção. Parem as tulipas e as prostitutas, o cardeal e o candelabro, parem o rio, que está a subir, senhores, parem, parem. Parem o desnexo, a cacofonia do sexo, o acorde final, parem, não faz mal. Parem o druida, o beijo, o crescendo, o compasso no traço, parem de fazer assim: "mundo sofre em cor, língua é bem melhor, mundo é todo igual? não, mas não faz mal". Parem com ciências e escalas e marcação, com termômetros e metrônomos parem a ocasião. Dispensem os fadistas, queimem as revistas, deixem-nos sem paz. Parem as guloseimas engraçadas, as fadas, as feias adormecidas, o carrossel. Parem a policia!
Há uma emergência aqui. Aconteceste. Aconteceste e o tempo não volta mais.
(2010)
Viajar é fundamental. Os português sabem-no bem. Por desespero desesperado, para calar um amor falhado, para amar outra vez.
Viajar é apurar os sentidos. Com a cerveja que ganha outra graça, com a mulher que quase para, mas passa, com a fome mais verdadeira; fome da comida caseira sem o desejo de voltar. Com os corpos a ganhar liberdade suada se for verão, a tombar de espanto se for Outono, a tremer-vontade se for inverno, ou a passear saltitantes na margem se primavera.
Viajar é ter perto coisas de longe, impossíveis, é ser melhor aos olhos e espelhos inocentes, é sorrir por hábito em dias soltos. Viajar é adivinhar não é saber, é gritar, não é gemer, viajar é estar sentado na biblioteca antiga e pressentir todas as promessas do futuro. Quem diz biblioteca diz bar, quem diz bar diz hall, quem diz hall diz estação, quem diz estação diz praça, quem diz praça diz escada, quem diz escada diz igreja. O viajante não senta para descansar. Senta para tomar impulso.
Sempre haverá o viajante que planeia tudo e percorre antes de chegar e o viajante despreocupado que fica por lá para sempre.
Viajar é apurar os sentidos. Com a cerveja que ganha outra graça, com a mulher que quase para, mas passa, com a fome mais verdadeira; fome da comida caseira sem o desejo de voltar. Com os corpos a ganhar liberdade suada se for verão, a tombar de espanto se for Outono, a tremer-vontade se for inverno, ou a passear saltitantes na margem se primavera.
Viajar é ter perto coisas de longe, impossíveis, é ser melhor aos olhos e espelhos inocentes, é sorrir por hábito em dias soltos. Viajar é adivinhar não é saber, é gritar, não é gemer, viajar é estar sentado na biblioteca antiga e pressentir todas as promessas do futuro. Quem diz biblioteca diz bar, quem diz bar diz hall, quem diz hall diz estação, quem diz estação diz praça, quem diz praça diz escada, quem diz escada diz igreja. O viajante não senta para descansar. Senta para tomar impulso.
Sempre haverá o viajante que planeia tudo e percorre antes de chegar e o viajante despreocupado que fica por lá para sempre.