Num indo e vindo
Havia uma promessa de coisas boas na primeira japoneira a contar das escadas. Havia o sermos inúteis e definitivos no andar da noite. Havia a certeza da imperfeição e o desafio desavergonhado dos limites. Havia o sabermo-nos de carne, sangue, saliva e auréola na mão. Havia o alivio dos corpos estendidos, a rebelião sôfrega dos olhares. Havia quem não passasse e os que passando não importassem mais. Havia ruas com esquinas boémias naquele céu, e passos sobre as ondas num imaginado mar. Havia muros que se voavam rasante, e flores que, de tão livres tão nossas, faziam dos sentidos um jardim. Havia o sim. Havia o tropeção desajeitado de quem sai em duelo com a calçada. Havia a persistência do vinho nas bocas, a dos beijos nos brindes, a dos desejos no amanhã. Havia o não querer acordar. Havia o acordar-se.
(2005)
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