Não me importa que não sejas tudo esta noite.
Basta que sejas na noite um sorriso sincero,
O conforto da presença, a graça do afecto.
Não te quero para a vida, quero-te na vida
Como quero ao mar, ao sol, e ao livro que tenho lido.
Uma peça que estremece ao encaixar.
Não tenhas medo das palavras exageradas,
Que o exagero faz parte dos primeiros tempos.
É a taça onde se verte e sorve a descoberta.
Não te chateies com os que passam
E com os que não passam mas espiam de longe,
Porque temos avenidas largas e o caminho nas mãos.
Não compares isto que temos com o passado .
O passado, mulher, tem sempre de triste e glorioso
O que não tem de repetível e verdadeiro e nosso
Não encolhas os ombros no fim da tarde,
Porque a indiferença é comichão levezinha
E mata fadas ao minuto, por onde quer que andem.
Não te esforces para adivinhar o Inverno,
Que a tua magia é de feitiço não é de sina
E a gente sabe bem no que tudo isto acaba.
Não fujas da incerteza só porque é incerta e fria.
Quando a candeia dança no escuro
É um fósfero gigante, já não se tropeça mais.
Sim, dá-me a tua mão, como recomenda o Pessoa.
Vira os olhos para mim, já sabes de cor.
Se não houver arroubo, há-de haver consolação.
(2009)
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