Houve um tempo do velho piano sorrir, e valsear mais que Viena inteira. Houve o tempo de procurar nocturnos adivinhando a lua, perdendo um pouquinho o sono, sem que importasse tanto assim.
Hoje passa dias-sonata que não acabam, troca os andamentos, quase que ri. Não abandona a elegância do preto, tem orgulho no sobretudo-pó.
Estremeceu muitas mulheres Lembra quando a morena se abandonava na cauda e a ruiva pálida olhava por dentro de copo meio-vazio na mão.
Teve muitas profissões: maestro de encontros meia-luz, compositor de sorrisos, afinador de almas. Sempre achou que pelos dedos se perde e salva o homem. E que no toque há mais poesia que em mil sonetos.
É dono de si, pouco dado ao dós, desdenha do sol, e sabe que lá não é o seu lugar. Cheira às coisas que contam histórias e são feitas para durar além.
Nunca foi ver o palco, mas da janela gasta consegue espreitar o mar.
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