terça-feira, 9 de julho de 2013

O que queres ser?

O que queres ser?
Uma princesa, um jardim, uma espera?
Uns brincos tal e qual força-nova primavera?
Uma cartomante sabida, especialista em passados?
Uma vendedora de caixilhos sem foto e usados?
Uma artista do cinema toda preto e passadeira,
ou Sininho de neve, cinderela-burralheira?

Uma soma de portas e chave de uma só,
Ou calendário quem tem graça: que é futuro e que é pó?
Uma bailarina dos olhos, com lágrimas nas pontas?
Uma senhora de chocolate como aquela que me contas?
Uma virgem assustada com tamanho e com vigor,
Ou pedinte embriagada, que não pede mais que amor?

Queres ser o par da dança quando a valsa quase acaba?
Queres ser a via em carne que é cama que desaba?
Queres ser uma cantora, arrependida verso a verso
Ou ser a salvadora desta mão-meia-universo?
Queres ser pirata antiga a gritar por peter pan?
Ou então doida varrida toda praia e toda lã?

Queres ser cinco cidades, impressão-vidro-molhado?
Uma dentada ainda maior quando derrete o gelado?
Queres ser trapezista e ficar em exposição,
Ou um mimo de bancada a torcer pelo irmão?
Queres ser nuvens de beco, de putas, que se lixe,
Ou um puto que se odeia, mas a gente diz que é fixe?

Queres ser sacerdotisa, caipira de beber,
Ou então ideia-todos, queres ser sem escolher?
Queres ser a minha amada, preferida, tudo e sonho?
Ou aquilo que não leio, mas me dizem e suponho?
Queres acabar com a morte ou é melhor renascer?
Queres dizer "um beijo agora" ou mentir para viver?

(2011)

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