segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Escrever-te por dentro

Vou escrever-te
Por dentro.

Até acabar a tinta,
A luz, a voz,
Vou escrever-te.
Escrever-te até acabar
O jeito, a cor das
Janelas amadeiradas e
Os números cardinais.

Vou escrever-te
Até acabar a mata
O relógio e a ciência
Até que acabem
Os degraus dos loucos
E as casernas dos sábios.
Vou escrever-te
Até terminar o susto,
Isso, o espanto.
Até desmaiar, até
Que o açúcar acabe.
Vou escrever-te até
Acabar a dose certa,
A ronda dos palhaços
As gaiolas que ignoram
os pássaros
Até acabarem espaços.

Vou escrever-te até acabar
A lira, o lírio, o cansaço,
Até a certeza acabar.
Vou escrever-te
Até que denunciem a sorte,
Até que dispensem o norte,
Escrever-te
Até cancelares a morte.

(2014)

Sem comentários:

Enviar um comentário