sábado, 15 de março de 2014

Pé a pé

Não tens medida - pé a pé - do meu gostar-te porque nunca te viste a dormir dizendo, a virar, e não virar, a contar histórias. Não tens ideia da coisa porque nunca olhaste o teu primeiro sorriso na manhã, o jeito compenetrado com que sopras o café, mais essa dança tua de sentir longe e chegar perto, doce. Não tens mapa da avenida, porque nunca cheiraste o desejo atrás da tua orelha, nunca te viste de surpresa ao voltar a casa, nunca mentiste o querer-te para não assustar de tanto. Não podes compreender porque não podes ter ciúme de ti assim, nem ver-te subir os séculos de shorts e azulejo, nem acompanhar a contracção das sobrancelhas testemunhando a injustiça.

Não ligas a palavra dos poetas grandes à grande palpitação, porque não provas o teu pescoço de banho e cansaço, não alinhas os olhos tortos pelo enamoramento certo, não te buscas perdida no elevador, mão, não inventas gestos para te acalmar as costas. Não recebes o teu beijo de até já, e não inchas de arrepio, mundo, carne, vento quando, do outro lado da noite, até pareces minha.

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