quarta-feira, 5 de março de 2014

Perigo: texto muito longo no caminho

O discurso das gerações é inconsequente e impreciso. Inconsequente porque precisamos é de derrubar fronteiras. Impreciso por ignorar as fronteiras antigas, mais farpadas, como as de classe, género ou região. Mas para o argumento grosseiro que se segue servirá. Abaixo fico menos polido do que me ensinaram e muito pouco justo. Por uma boa causa.

A geração que assistiu adulta aos 25 de Abril com um misto de não sei e de tremenda esperança, lembra bem a pobreza e melhorou bastante de vida. 1/6 conseguiu ver os filhos formados no ensino superior, comprou as coisas que conhecemos e não se envolveu civicamente tempo suficiente para garantir que qualquer governo pós 1991 combinasse preparação do futuro (reformas), aumento de competitividade e crescimento económico sustentado: Entramos na Europa de cabeça (moeda mais) sem uma estratégia de como aguentar aquele barco, vimos a demografia inverter-se sem conter as pensões mais altas, incentivamos consumo interno enquanto as exportações emagreciam, e o investimento de privados e estado foi conduzido por este último para construção civil. Depois de terem adormecido na constituinte, com aqueles senhores da academia, das letras, das ideias, sofrem de verdade ao acordar num pesadelo de incompetentes que agora preocupa muito filhos, afasta netos e corta. Ainda bem que havia Solnado.

A geração que assistiu criança ao 25 de Abril, com um misto de isto é fixe e quero mais, esteve no coração da mobilidade social produzida, acedeu a um ensino superior expandido à pressa para atender às demandas da democracia (alguns meninos tirando licenciaturas em Universidades que já não existem ou com cursos já eliminados), ingressou na função pública precisada de “quadros especializados” e nas empresas (num cenário em que as mais fortes estavam nacionalizadas). Comprou casa com juros baixos, carro cedo, aprendeu inglês suficiente para as viagens de estudo, e conseguiu emprego nos serviços, que segundo declaração do, então PM, seriam o futuro. Formação subsidiada, consultoria nas grandes vacas, telecomunicações, advocacia no país do inferno tribunalesco, comércio. Muito bem. Envolveu-se politicamente (amostra pequena) no enquadramento 2 partidos mais 1 só se, e outro só se se. Constituí a juventude dos regimes, município distrito, e o IPJ festejou. Agora está no poder, sem ter aprendido a produzir riqueza ou a poupar, ou a lembrar como é ser pobre mesmo, com aquele mesmo inglês mais ou menos no mundo globalizado e todos olhando para ver no que dá. Não dá. Ainda bem que tivemos Herman José.

A geração que nasceu com a Europa e era adolescente no 11 de Setembro sentiu cheiros de tudo pode ser. As cidades minúsculas com rotundas bonitas, Expo 98 incrível, muito azul, tantos continentes para carimbar, livros escolares novos todos os anos, lancheiras com os desenhos animados, 2 canais, 3, 4, 200, dinheiro para uns doces, para os bilhares, consolas, computadores, o primeiro ministro a demitir-se no pântano, a fuga cultíssima de tanga para Bruxelas, o PM bem intencionado mas Kadoc, o papagaio do pântano 100.000 a parecer fazer coisas, Scolari, mas afinal não, é a sangria, o Magalhães, o Chávez de rumba, crise muita crise, ah, mas a outra é velhota. já não dá para pagar tudo mas dá para pagar parte, temos que ir embora. Ou quero ir embora, isto não chega, quero mais. Ou: ou vais embora ou mando-te embora. Ok. Ainda bem que tivemos Gato Fedorento.

Enquanto os actuais governantes estão a tentar perceber como pagar a conta de uma festa descontrolada e linda (mortalidade infantil para o brejo, reinvenção do têxtil e calçado, infraestrutura perfeita, miséria e desemprego minimamente protegidos,etc), não deveria a nossa geração estar a pensar junta como ultrapassar os dilemas estratégicos que em 15 anos serão os nossos? Eles somos nós. Ninguém cresceu a sonhar ser o pior governante da história. Exemplos de questões a pipocar.

• O cluster da saúde foi criado, o do mar foi falado, o das florestas foi defendido. Quem articula? É possível? Seriam clusters nacionais ou ibéricos, ou europeus?
• Não nascem crianças. Que emigração queremos receber? Como a atraímos? Para onde precisamente?
• Muitos menos querem ser padres. Que organismos substituirão as IPSS da igreja? Com que mudança de paradigma? Com que inovação social para majorar efeito com custos controlados e gerando autonomia? Em contexto de projectos nacionais ou internacionais?
• Com o crescimentozinho nacional que há-de vir e os tumultos no globo que se imaginam, poderá haver nova geração de “retornados”? Como recebe-los? O que aprendemos com 74/75?
• Ninguém pensa em Portugal quando pensa no estrangeiro. Que diplomacia vale mesmo? Onde se esgota a súbita diplomacia económica como exclusiva?
• Temos muito mar. Somos porta de entrada para turistas e emigração temporária mas droga e armas também. Como defender um mar nosso (estas milhas e estas e olha estas) se não o patrulhamos? Que novo papel para as forças armadas depois do corte e corte?
• Ainda não acertamos na educação. Não estabilizamos o mínimo que é preciso saber, não demos liberdade com meios, não envolvemos mesmo a comunidade, não sabemos como avaliar os professores, não estancamos o abandono. Como a prioridade é juros e dívida e é mesmo, como preparamos a base para uma educação de excelência em pouco e de ferramentas mentais para tudo?
• O sistema cientifico gatinha. Há dinheiro, dá-se, não há tira-se. Doutoramento em quê ? Vai mesmo acrescentar a que campo? Que interface tem para outros? Que potencial para inovação tecnológica? O que é prioritário? O que pode trazer ganhos e em que tempos avaliamos? Em que redes nos integramos? Em que vitórias temos o nosso quinhão?
• ... (isto não pára) Que outras?

Sei que neste livro de caras há muitos que, ao contrário de mim, não são simplistas e estudam coisas e sabem ou saberão. Contem, por favor. Comecemos a exercitar cedo. Sem a preguiça daquela esperança que só espera.
Há Portugal Porvir no Portugal por vir. 

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