quarta-feira, 15 de julho de 2015

Filho marinheiro

João nasceu lá onde ninguém fica com intenção de ficar - Minas sem ouro. Os bois mansos,  dirigiu desde os oito quando, aos doze, se cansou. Veio morar na cidade grande, uma mala cheia de honestidade, na maior cidade. Teve fome, teve frio, mas não deixou o Sertão voltar.

Muito tempo foi tempo de feira na vida de João. Muito tempo foi tempo de estrada e no meio desse tempo tanto, Maria: De quatro vícios o primeiro. Todo o dia, antes de chegar a Maria, João desviava o ponteiro para a cachaça sem fundo, e na casca da cachaça jogava de cartas a dinheiro, e por dentro da cachaça voavam quatro maços de um tabaco que sabia mal como era bom.

O filho de João e Maria apareceu no mundo e tão rápido como oito meses o mundo mudou. Uma noite estava já não se sabe bem como nem onde e João decidiu: para criar este filho o que é ruim nos amanhãs tem que ser chutado hoje já. No fim do caminho das migalhas, na casa doce disse a Maria: a partir de hoje não fumo não jogo e não bebo, que o filho é meu e é nosso. Maria riu. Mas como não rir  se João queria largar João; desencarnar em viva vida, como dá?

Maria São Tomé foi ao o bar e pintou sobra da garrafa privativa com esmalte, vigiou as roupas perguntou aos amigos da mesa, e nada. Tudo de uma vez João fez.

Já lá vão vinte anos e o menino saiu do colo para o estudo, engenheiro de máquinas e fábricas, desabrochou e se soprou pro mar. Hoje é oficial de Marinha e Maria, que tanto tinha com mais não pode ficar. João não deu sorte. João matou o azar.

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