A morte é uma puta. A
pior puta. A puta do não prazer, a puta do não. Puta que sorri com os mesmos
dentes que trinca. Puta que nunca beija, faz de
conta, puta que brinca, puta que cheira mal. Puta que não se moderniza, que só
muda de roupa quando tem mesmo que ser -
Puta que insiste. É das putas mais putas a Puta mais cara – a que tira,
sem chocalhar, tudo o que custou a colher. É uma puta que não tem. Mas também
não deixa ter.
Puta dura, que não se
comove, que não escolhe cliente, mas gosta de ir baralhar a fila. Puta sem
chulo, ou de chulo demasiado ausente - eu lá sei de negócios do Universo - puta que faz o que quer.
Puta de rua, de casa, de
salão de palácio, de escritório, de vão de escada, puta de todos os lugares.
Dir-se-ia hoje puta online. Puta sempre em rede.
Nunca mais digo “puta da
vida”. Não há puta da vida, são ramos diferentes.
Esta puta é um travesti.
Joga o jogo, disfarça bem, e na hora, sem quereremos, fode-nos com tudo o não
sabemos, mas tem.
Nunca fui às putas, não
sei do que falo. Nunca morri, não sei do que falo. Mas Já as vi do outro lado do passeio e já
senti a puta mestra a passar de encosto.
Ouve-me bem, e decora
pelos milénios: se assim puta e feia como és te der para seduzir um dos que
amo, mato-te. Repito: olhos-te nesses olhos com lentes secas e mato-te. Não me
canso: esqueço que sou como sou um grande manso: e mato-te outra vez.
(2012}
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