Amélia não era nem puta nem santa. Nada antiga e absolutamente certa
quando olhava os outros nos olhos para dizer é assim. Em casa se o filme puxava
muito chorava um pouco, mas nem por isso. Teve um grande drama que manejou com
o tempo e decidiu que a vida haveria de ser up, alto astral, sorriso para quem
mereça. O rapaz de Amélia não tinha drama nenhum, mas uma melancolia-batina que
facilitava as coisas na cama. Ele dava, ela não agradecia.
Amélia trocou duas oportunidades de fazer coisas pelas coisas certas que
tinha. Aquela exacta casa com aquele exacto móvel-hall-segredos-na-gaveta-de-baixo. Aquele jardim em que não mexia mas
sentia como filho que se enviou para o colégio interno. Amélia conhecia todos
na vizinhança e fingia que não. Ao talhante de olhos azuis que a atendia confessava
boca fechada: se não fosses talhante.
Amélia gostava das amigas. Não como elas gostavam dela, mas leveza de
sexta-à-noite por favor. Balcão para os problemas e para as tequilhas, preferia
ser útil que encantadora. Amélia acreditava em feitiços, em espíritos, mas nada
em Ovnis. Percebia que o que se vê quase nunca é.
(2012)
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