Parem a orquestra, parem tudo, que eu entro na fuga para
perto de ti. Parem as heróicas, as tubas, os arcos, pássaros em fogo na sala
vazia. Parem o sismo, o ritmo da prosa, o baixo, Salvem a folha virada por
virar, salvem. Parem as gotas, as águas, o depois do meio-dia, o susto. Parem
as valsas, o coro, eu choro o choro. Parem para já.
Parem a sétima, a nona, a quinta, a feira, parem os macacos
a brincarem com a orelha. Parem a batuta, a truta, a dor, parem que me calo mas
não sei calar amor. Parem os risos, a bula, a burla, o indizível no libreto.
Parem o intervalo e a capacidade de perdoar. Parem o pano, as cordas, a
baqueta, parem Romeu e Julieta, não me digam que acabou. Parem o bombo, o gesto
de ateu, o gato na janela. Arranjem outra viela. Parem para já.
Parem o mundo novo antes da descoberta, a impressões do
elefante, salvemos uma canção. Parem as tulipas e as prostitutas, o cardeal e o
candelabro, parem o rio, que está a subir, senhores, parem, parem. Parem o
desnexo, a cacofonia do sexo, o acorde final, parem, não faz mal. Parem o
druida, o beijo, o crescendo, o compasso no traço, parem de fazer assim:
"mundo sofre em cor, língua é bem melhor, mundo é todo igual? não, mas não
faz mal". Parem com ciências e escalas e marcação, com termómetros e
metrónomos parem a ocasião. Dispensem os fadistas, queimem as revistas,
deixem-nos sem paz. Parem as guloseimas engraçadas, as fadas, as feias
adormecidas, o carrossel. Parem a policia!
Há uma emergência aqui. Aconteceste. Aconteceste e o tempo
não volta mais.
(2012)
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