segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Ameaçar e ir

Parem a orquestra, parem tudo, que eu entro na fuga para perto de ti. Parem as heróicas, as tubas, os arcos, pássaros em fogo na sala vazia. Parem o sismo, o ritmo da prosa, o baixo, Salvem a folha virada por virar, salvem. Parem as gotas, as águas, o depois do meio-dia, o susto. Parem as valsas, o coro, eu choro o choro. Parem para já.

Parem a sétima, a nona, a quinta, a feira, parem os macacos a brincarem com a orelha. Parem a batuta, a truta, a dor, parem que me calo mas não sei calar amor. Parem os risos, a bula, a burla, o indizível no libreto. Parem o intervalo e a capacidade de perdoar. Parem o pano, as cordas, a baqueta, parem Romeu e Julieta, não me digam que acabou. Parem o bombo, o gesto de ateu, o gato na janela. Arranjem outra viela. Parem para já.

Parem o mundo novo antes da descoberta, a impressões do elefante, salvemos uma canção. Parem as tulipas e as prostitutas, o cardeal e o candelabro, parem o rio, que está a subir, senhores, parem, parem. Parem o desnexo, a cacofonia do sexo, o acorde final, parem, não faz mal. Parem o druida, o beijo, o crescendo, o compasso no traço, parem de fazer assim: "mundo sofre em cor, língua é bem melhor, mundo é todo igual? não, mas não faz mal". Parem com ciências e escalas e marcação, com termómetros e metrónomos parem a ocasião. Dispensem os fadistas, queimem as revistas, deixem-nos sem paz. Parem as guloseimas engraçadas, as fadas, as feias adormecidas, o carrossel. Parem a policia!

Há uma emergência aqui. Aconteceste. Aconteceste e o tempo não volta mais.

(2012)

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