O meu bairro não grita nem se esconde, é intimo. Dá para dançar
bastante, mas não se dança. Dá para caminhar bastante e caminha-se. Dá para
virar quase lar e está quase.
O meu bairro sabe de dinheiros, coisas importantes e chatas, mas guarda
horas-sexta-feira-feliz em todas as esquinas. Tem um rapaz das flores que
precisa de muitas linhas para dizer, tem sobe e desde bom dia, boa noite, tem
cinemas, e gelados, e Milan Kundera. Acho que não tem cartão postal – não é o
estilo.
Cheira a México, Japão, Marrocos e mais. Tem pão muito quente e um
barbeiro que me dá muito medo por não ser o meu. Tem americanas para nos
socorrer a qualquer hora, e encontra-se demasiadas farmárcias para tanta
saúde.
O meu bairro tem letras para as canções, noivas tem, bancos e bancos
também. Tem decoração para enganar casais felizes e para fotografar
mulheres-maduras-sofisticação. Tem um pouco a mania, é verdade. Mas é bom.
Quanto mais brinca de ser Europa mais é Brasil.
(2012)
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