Sentamos no café também para amar. Rimos da piada de ontem, ameaçamos
circo na escadaria e não deixamos o dia fugir.
Brincamos de adivinhar belezuras a quatro, como será ser mãe domingo à
tarde, porque ainda se compra moleskine, porque Che Guevara quis morrer.
Fugimos debaixo da mesa quanto o tampo escorrega um pouco, esfria um
pouco e sem jogos ganhamos muito.
Secamos as palavras e deixamos a vida passar pelo nó. Não a vida vida
assim grande, mas a vida grão, beijo, perna, rua atravessada, bicicleta
triangular.
Correspondemos invisíveis, levantamos a cabeça, e não e sim, e sentimos
o coração esticar quando o sofá vira acompanhado. Parece-nos bom que haja café
assim: xadrez sem campeões; que o que é tão americano e popular possa ser tão
daqui e feito-à-medida.
Permanecemos o bastante para adivinhar quem mais, para dar hipótese ao
destino. Somos deliciosamente românticos logo no dia seguinte - A desilusão é
só tira gosto.
Descobrimos que a perfeição está quase sempre a metros, protegida a
metros. A cheirar quente, a saber a adrenalina.
O café é calmante.
(2012)
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