quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Café

Sentamos no café também para amar. Rimos da piada de ontem, ameaçamos circo na escadaria e não deixamos o dia fugir. 
Brincamos de adivinhar belezuras a quatro, como será ser mãe domingo à tarde, porque ainda se compra moleskine, porque Che Guevara quis morrer. 
Fugimos debaixo da mesa quanto o tampo escorrega um pouco, esfria um pouco e sem jogos ganhamos muito.
Secamos as palavras e deixamos a vida passar pelo nó. Não a vida vida assim grande, mas a vida grão, beijo, perna, rua atravessada, bicicleta triangular. 
Correspondemos invisíveis, levantamos a cabeça, e não e sim, e sentimos o coração esticar quando o sofá vira acompanhado. Parece-nos bom que haja café assim: xadrez sem campeões; que o que é tão americano e popular possa ser tão daqui e feito-à-medida. 
Permanecemos o bastante para adivinhar quem mais, para dar hipótese ao destino. Somos deliciosamente românticos logo no dia seguinte - A desilusão é só tira gosto.
Descobrimos que a perfeição está quase sempre a metros, protegida a metros. A cheirar quente, a saber a adrenalina.

O café é calmante.

(2012)

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