Daquela última vez, em Paris-que-não é, parecias pronta a usar-me até o
fim. No meu casaco azul ficou o cheiro a rum e no teu branco ficou agarrada a
minha memória.
Vinhas com ar de quem esconde alguma coisa e de esperança. Expulsavas
sorrisos como quem sabe e isso fez-me quente, e pronto, e aldeão gaulês,
brutíssimo, como nos desenhos de casa da avó.
Querias dar dentadas, eu queria tudo o resto. Querias ver um filme, eu
tentava adormecer um pouquinho.
Não fomos muito além da eternidade, não havia tempo, não é? Todos os
vinis e cartomantes a passar de sina em sina, e nós tremendos, a refilar da
porcaria que é a morte.
Se pudesses levar um saquinho com o dia escolhido para Domingo, vitória.
Mas não, anjo. O texto do menu era claro: degustação.
Se a vida pudesse ser aquela Paris esticada até à nossa porta, nós teríamos
uma porta nossa.
(2012)
Sem comentários:
Enviar um comentário