quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Paris sem ser


Daquela última vez, em Paris-que-não é, parecias pronta a usar-me até o fim. No meu casaco azul ficou o cheiro a rum e no teu branco ficou agarrada a minha memória.
Vinhas com ar de quem esconde alguma coisa e de esperança. Expulsavas sorrisos como quem sabe e isso fez-me quente, e pronto, e aldeão gaulês, brutíssimo, como nos desenhos de casa da avó. 
Querias dar dentadas, eu queria tudo o resto. Querias ver um filme, eu tentava adormecer um pouquinho. 
Não fomos muito além da eternidade, não havia tempo, não é? Todos os vinis e cartomantes a passar de sina em sina, e nós tremendos, a refilar da porcaria que é a morte.
Se pudesses levar um saquinho com o dia escolhido para Domingo, vitória. Mas não, anjo. O texto do menu era claro: degustação. 

Se a vida pudesse ser aquela Paris esticada até à nossa porta, nós teríamos uma porta nossa.

(2012)

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