domingo, 10 de novembro de 2013

Uma fractura

Localizei uma fractura no nosso sonho mais recente. Está ali bem ao lado do prato que não pedimos, frente ao senhor que olhaste um pouco demais e explicaste atrapalhada, por debaixo da mentira que te menti pela terceira vez, por não haver como a verdade. 
O tratamento não é simples nem há quem diga que sim entre os amigos. Esperar que o tempo endureça o caminho de a gente-quereria-microdistãncia ou, que o leite que não bebo há vinte anos dê teta, ou que a flor que já não usas se reproduza no beiral. Já ninguém tem a certeza. Queremos acreditar.
No mínimo tirar as lentes, limpar o suor escondido, e procurar sombra. Não podemos viver mais exilados das nossas coisas pequeninas, por mais pequeninas que sejam, em tempo de gesso e descanso e palavras de incentivo à toa, amor. 
Talvez aceitar calças rasgadas, e o que está na gaveta e ninguém reclama, e reconhecer que o champô abandonado na birra mereceria todas as chances, porque dura e é melhor. 
Localizaste outra fractura, logo a seguir – perita – a gente acredita – muito antiga quase impessoal. Um verso repetido, um regresso agitado para o bolso, um convite fora da composição química, um astro demasiado confiante numa sala tão austera. Tudo bem. Ou tudo mal. Veremos. 
Para já, o que corre no sangue: que é querer-te mais que tudo. Depois o que vai na pele, que não é na pele_ arrepio de pensar-te pior. E mais. Tu sabes melhor que eu.
Duas fracturas. Micro. E já dois filmes, que como filmes, têm fim.

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