Localizei uma fractura no nosso sonho mais recente. Está ali bem ao lado do prato que não pedimos, frente ao senhor que olhaste um pouco demais e explicaste atrapalhada, por debaixo da mentira que te menti pela terceira vez, por não haver como a verdade.
O tratamento não é simples nem há quem diga que sim entre os amigos. Esperar que o tempo endureça o caminho de a gente-quereria-microdistãncia ou, que o leite que não bebo há vinte anos dê teta, ou que a flor que já não usas se reproduza no beiral. Já ninguém tem a certeza. Queremos acreditar.
No mínimo tirar as lentes, limpar o suor escondido, e procurar sombra. Não podemos viver mais exilados das nossas coisas pequeninas, por mais pequeninas que sejam, em tempo de gesso e descanso e palavras de incentivo à toa, amor.
Talvez aceitar calças rasgadas, e o que está na gaveta e ninguém reclama, e reconhecer que o champô abandonado na birra mereceria todas as chances, porque dura e é melhor.
Localizaste outra fractura, logo a seguir – perita – a gente acredita – muito antiga quase impessoal. Um verso repetido, um regresso agitado para o bolso, um convite fora da composição química, um astro demasiado confiante numa sala tão austera. Tudo bem. Ou tudo mal. Veremos.
Para já, o que corre no sangue: que é querer-te mais que tudo. Depois o que vai na pele, que não é na pele_ arrepio de pensar-te pior. E mais. Tu sabes melhor que eu.
Duas fracturas. Micro. E já dois filmes, que como filmes, têm fim.
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