domingo, 10 de novembro de 2013

O maior perigo

O maior perigo é não ir. Não acender o pavio da coisa a ver se dá. Não se sentir que se está vivo e se quer estar um pouco para sempre, se faz favor. É o maior perigo.
O maior perigo é virar a cara, baixar os olhos, engolir a saliva. O maior perigo é não permitir que o outro nos interesse como nos interessa aquele filme em que a gente chora ou ri à gargalhada e repete todos os anos. Maior perigo é ficar demasiado tempo sozinho.
O maior perigo é não beijar o que se gosta na boca, com língua em twist em skroll, salsa-jazz, sei lá. O maior perigo é o grande esforço de acreditar em coisas que sabemos desde os cinco anos que são merda aos quadradinhos, que são muleta para corredores de cem metros, que fazem sentido zero.
Maior perigo é deixarmos badalar conversas onde todos opinam, castram, incendeiam e nenhum se sente bem. Conversa que continua quando a bexiga aperta, a garganta fica seca, a paciência acaba. Esse despejar de veneno no rio só porque dá jeito ter uma tribo.
Maior perigo é o orgulho. Se não me coisa não coiso. Haja juízo!! Ainda se fossemos tartarugas!? Mas estas vidas curtinhas em que só mandamos depois de uns 25 ou 30 ou 13... Não dá para não dar mais do que se espera receber. Não dá para não sorrir apesar de tudo. Não dá para não querer saber de quem era tudo ou tanto ou muito ontem à tarde.
Maior perigo é carregar nas costas dores dos outros, da humanidade. Esse compadecimento por todos nós que não traz nada a ninguém. São tantas tristezas em tantas curvas, essas mortes, essas desilusões, esses acasos frios, que maior perigo é não sair de peito feito. Maior perigo é não ser super-herói. É esquecer-se de estar em contacto com o que nos faça esquecer o resto. É deixar de salvar a menina que pede socorro só porque a menina está longe, ou está trânsito ou passou da hora decente.
Maior perigo é abandonar essa divindade que nos corre das veias, nos embriaga no colo, e nos salta em cuspidelas distraídas quando falamos com amor e saudade de quem amamos tanto.

(2013)

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