Um dia,
brincava eu
Nas avelãs ou
nas maças – já não sei bem
(onde havia um
lago vazio, favorito
De saltar e
correr)
E disseram-me
a rir: vem aí um mano.
Não posso ser
preciso, mas festejei,
Acompanhei,
encostei, tive ciúmes - coisa pouca
e amei-te
Desde o
primeiro dia.
Escolhi o teu
nome,
Fosses menino
ou menina.
E guardo hoje
numa canção do Chico
o que sobrou
da disputa
para a tua
sobrinha-se-vier.
Escolhi o teu
nome
mas não te
escolhi. Não podia.
E se pudesse,
não saberia onde encontrar-te.
Esse teu azul
impossível
Em que tudo
cai e rebola e se vê e revê, esse espelho.
Esse teu
grande entusiasmo
Essas tuas
zangas feias com coisas
Da vida. Esse
teu perfume
- o melhor –
que muda e é sempre o mesmo.
Essa tua
percepção
De todos os
aromas do mundo.
Esse teu
ouvido de exigência total, esse
Teu
bom-gosto-nova-iorque.
Esse teu
desatino sereno
Com as coisas
bonitas que há,
Com o bonito
que há nas coisas.
Essa tua mão
numa margem,
Essa tua mão
na outra, esse
Caminho de que
não nos deixas desistir.
Essas tuas
paixões absolutas, enormes,
Esses teus
golos que nem contas
Esse teu
abraço que festeja mais que mil.
Esses pés
pisando a terra até à raiz,
Esse renovado
sentido na regresso.
Esses teus
cuidados, como quem nem sabe
Essa tua
sabedoria que não é daqui.
Essa tua
opinião que se interessa, que chega perto
e amarfanha-raiva-jornais.
Essa tua
visita diária quando não estás. Esse silêncio
Com mais
literatura dentro
Que as
bíblias, Odisseias e amigas.
Essa tua
defesa do tipo que não tem, mais ainda
Do tipo que
não pode.
Essa tua
doçura a salgar na pele.
Esse encontro
que espreito
Entre o que és
e o que, a sorrir,
Nem desconfio.
(2012)
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