Espero um
bocadinho antes de dizer, mas digo – não sei que quero da vida. Ela olha de
lado, abana a cabeça e ri-se.
Sei da vida
que quero sentar-me escadas a conversar, descer onde for preciso, levar ao
colo. Sei da vida que quero adormecer no
sofá, abrir o vinho e dar a provar, reconhecer o fundo e a Catedral. Sei da
vida que quero um dia inteiro de caminhada, um dia inteiro de rede e meio dia a
escolher. Sei da vida que há aviões e lugares e barcos e esquecimento e
bandidos e princesas, sei que quero ver.
Sei da vida
que quero gomas no escuro, woody no escuro, clint no escuro, nichols no escuro,
luz no corredor. Sei da vida que quero saber das coisas castanhas e com pó, das
coisas de passadeira, de apertos de mão que salvam. Sei da vida que quero estar.
Sei da vida
que quero às escondidas, mão devagar, pele e suor, fruto para encostar os
dentes. Sei da vida que quero saltar, mas cuidado, quero uma esplanada com
vista para ti, quero um sumo de maracujá a saber a maracujá. Quero um
galho-espada, correr atrás, fazer de conta, saber que o porco é urso que o urso
é vaca e por aí. Quero entreter os dias com cócegas e histórias de ontem à
tarde.
Sei da vida
que quero os meus, quero muito. Eu sabia lá. Quando falava da vida – agora só
digo que não sei – eu sabia lá. Sei da vida que quero voltar e encontra-los.
Sei da vida
que quero ver estrelas, ideias de mudar tudo, rebeldias, franquezas que magoam
mas sabem bem e estão certas, o quanto as humanices podem estar.
Sei da vida
que quero a ponte a pé, a ponte a carril, a ponte a passar.
Sei da vida
que quero ficar cansado para te encontrar lá em cima, ficar perfumado demais
para te encontrar lá em cima, decorar discursos e esquecer para te encontrar lá
em cima e descer a assobiar.
Sei da vida
que quero cores vivas e cafés e rodas gigantes e crepes. Quero saber de homens
sem orelha, de caçadores de leões, de insulares a brincar aos continentes, de
surdos a fazer-nos renascer, de funcionários-poetas e de quem ponha algodão na
boca para nos fazer acreditar.
Sei da vida
que quero uma mesa longa, bancos corridos, vermelho, verde, amarelo que dizem
branco, amarguices doces, palavras de ordem-de-rua no tecto, folias de vamos lá
que a gente aguenta. Sei da vida que quero sair da porta e sinatrar a calçada e
ouvir xiu.
Sei da vida
que quero tábuas para pisar e panos para espreitar ou então churrascos ou então
o chão do teu quarto.
Sei da vida –
eu sei lá - que a vida corre e a gente caminha.
Sei do querer
que ora se perde em atalhos ora espera que ela, a vida, volte. Para agarra-la
pela anca e encostar com jeitinho.
(2012)
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