segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Coimbra

Tu chegaste no dia em que perdia a minha história e o meu rastilho de tentações pela água.
Chegaste novidade a parecer novidade e graça sem disfarce. Viu quem quis, quem não quis ou não se importou, viu o distraído e o disfarçado, o sentinela e o sonolento, viu até quem não podia ver, eu vi. Um cordel no meu dedo mindinho, a fazer rodopiar trapalhão-pesado – eu vi - a fazer voar a terra da terra à terra – eu vi – a tremer de fora para dentro – eu vi – a conspirar e anunciar e nem saber – eu vi – a virar a face à Lua numa chapada – eu vi.
Fizeste todas as perguntas sem te interessares e eu, tontinho, respondi como num directo depois de três conhaques  Descobri, espião de desculpas, meia dúzia de concretudes para manter o tic-tac; fiz de conta que mais coisas se passavam no mundo só para manter a confiança; desdobrei origamis com a impaciência de quem tem mais jeito para destruir. Dancei contigo mais tarde e nunca mais dancei contigo.
Muito depois estava frio, porta fechada, era o outro mas o castelo era o mesmo, a mesma Lua já recuperada, um museu-bilião logo à porta da estrada, eram improvisos sobre uma cantiga do bandido e era um fim sem muita glória, fora da chave.
Mas isso era muito depois. Muito antes de muito depois, no dia em que chegaste, a minha história voltava como as ondas e já não havia lugar. Só tempo.

(2012)

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